sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Revista Playboy - Maio 2005


Eliana entrevista pela Playboy

Quem mora ou tem parentes no interior sabe do que se trata. Aquela prima. Não a saidinha, que usa blusas fáceis de mergulhar os olhos. Que foge do cheiro de pastel da quermesse para se refugiar no beco atrás da igreja, sempre em boa companhia. A outra prima. A de vestidinho azul que combina a cor da fita do cabelo com a sandália e a bolsa. Aquela que a gente tem vontade de pegar firme para transgredir. De cravar os dentes na batata da perna para ver se ela desmonta o olhar de Santa Maria Goretti. Pois então. Eliana é essa priminha. E que priminha. A cintura de 62 cm compõe um desenho aerodinâmico junto com os quadris largos. Ela faz o tipo que as passarelas debocham e a gente baba. Baixinha (1,62 m), é dotada do que chamamos de airbags fartos (85 cm) e um belo conjunto de suspensão traseira (92 cm). A máquina vem sendo pilotada pelo empresário paulistano Roberto Justus, aquele publicitário com cara de quem mamãe vestiu e penteou.

Filha do zelador cearense José e da catarinense Eva, Eliana Michaelichen Bezerra começou sua busca pela fama aos 9 anos, quando decretou: "Quero ser artista". Às vésperas de completar 27 anos, está rica. Seu nome movimenta 50 milhões de reais por ano, tem 132 produtos licenciados e o salário na Rede Record, a emissora na qual tem o programa Eliana & Alegria, beira os 450000 reais por mês, incluindo merchandising. Eliana é uma mulher de negócios. De seus sete CDs, seis ganharam disco de platina, com mais de 250000 cópias vendidas, e ela foi indicada para o Prêmio Grammy. Tem trio elétrico em cinco capitais do Nordeste para fazer os carnavais fora de época, sem falar nos shows pelo país todo. Prepara-se para ter, em 2001, seu primeiro programa adulto, na Rede Record. Também quer fazer um filme autobiográfico com a diretora Tizuka Yamazaki.

Nossa priminha amealhou um patrimônio estimado em 10 milhões de reais e até o final do ano vai inaugurar sua nova casa, uma mansão de 1 200 metros quadrados nos arredores de São Paulo que custou cerca de 2 milhões de reais. O palácio da princesa tem quatro suítes, piscina, sauna, ofurô, churrasqueira, tatame para um jantar japonês íntimo e... garagem para catorze carros. Boa moça, garante que vai continuar morando com os pais até se casar. Ela jura que fala palavrão, mas é muito bem-comportada no vocabulário. Usa palavras como "poxa", "rapazes" e "tesouro". Preocupa-se em não pronunciar gírias porque é apresentadora infantil, mas peca pelo excesso de diminutivos. Durante as três sessões de entrevista, usou 179 palavras terminadas em "inha" ou "inho".

Apesar do estilo mocinha-bem-educadinha, está mais segura, mais mulher. Tem usado roupas justas, decotes, orgulha-se do corpinho conquistado à base de muita malhação. E, o mais surpreendente de tudo, vai lançar um calendário com fotos suas para 2001. Infelizmente não aparecerá como todos gostaríamos de vê-la (ainda!), mas promete fotos bastante sensuais. Não deixa de ser um sinal de que, assim como toda prima bem-comportadinha do interior, Eliana também esconde seu lado femme fatale. E, certinha como é, não ficaria à vontade para exibir esse lado para qualquer um dos marmanjos da redação de PLAYBOY. Por isso destacamos a editora especial Andréa Barros para essa missão. A conversa de comadre ficou divertida. Aproveite como se estivesse ouvindo pela porta entreaberta do quarto o bate-papo íntimo da sua priminha bem-comportada com uma amiga. Eis o relato de Andréa:

"Quando chega ao escritório que ocupa um andar inteiro num prédio moderno do bairro do Itaim, em São Paulo, Eliana veste top, tamancos cor-de-rosa e calça jeans. A pulseira do relógio segue o tom da blusa. Não há um fio de cabelo – ela jura que só usa a tinta alemã para clarear um pouco mais seu loiro natural – fora do lugar. Parece mais magra e é também mais baixinha do que o vídeo revela. Abre e fecha os olhos dependendo da intensidade que quer dar a cada frase. Também usa muito as mãos, vício que adquiriu quando foi confinada ao plano americano da televisão para fazer chamadinhas de desenho, no SBT. Chama atenção a aliança Cartier de platina que ela usa na mão direita, presente de Roberto. "Eliana é uma artista profissional. Interrompe a frase quando ouve o barulho do gravador, para retomá-la com a mesma naturalidade depois que a entrevistadora vira a fita. Por isso, foi preciso fazer algumas perguntas de forma muito direta. ‘Bandida!’ foi o jeito que encontrou de reclamar quando se sentiu acuada. Eliana é, acima de tudo, muito segura. Confira:"

PLAYBOY – Vem cá, diz uma coisa. Você é tão bem-comportada que parece usar aquelas calcinhas grandonas, do tipo que as mulheres americanas usam, sabe? Tem alguma calcinha mais ousada no seu armário?
ELIANA – Calcinha para mim tem que ser bem pequenininha. Bem pequenininha.

PLAYBOY – É mesmo? De que cor?
ELIANA – Gosto de branca e preta. Não tenho cinta-liga, espartilho. Isso não faz meu estilo. Prefiro um conjunto bacana de calcinha e sutiã. Às vezes de renda, pode ser de sedinha. Mas tem de ser confortável. Não gosto daquelas coisas muito cheias de detalhes que acabam incomodando. Amo comprar lingerie. Em viagem, as coisas que mais me atraem são sandálias e lingerie.

PLAYBOY – E baby-doll, camisola?
ELIANA – Não uso. Durmo só de calcinha, quando faz muito calor, ou de camisetão. Até tenho alguns modelos para dormir na casa de amigas. Com o namorado, prefiro ficar só de calcinha mesmo. [Risos.]

PLAYBOY – E qual foi o lugar mais estranho em que você já transou?
ELIANA – [Solta um gritinho.] Aha! Que doida! Xiii... Estranho eu não diria, mas um lugar muito bacana foi numa praia deserta com o meu namorado.

PLAYBOY – Que tipo de música você gosta de ouvir na hora da transa?
ELIANA – Nem sempre gosto de ouvir música. Às vezes o silêncio e só a respiração da pessoa é o melhor som que você pode ouvir.

PLAYBOY – E já teve uma noite que você preparou por dias e dias e na hora H deu tudo errado?
ELIANA – Procuro não gerar muita expectativa para não me decepcionar no final. Essa é minha filosofia de como se dar bem numa relação. Meu primeiro jantar sozinha com o Roberto foi muito legal porque eu já sabia que ele era uma pessoa superbacana e não criei expectativa em cima do homem. Simplesmente fui bonita. É lógico que comprei roupa nova, lingerie nova, fui cheirosa. Tentei colocar o campeão do armário em relógio, em jóias, mas não criei expectativa a partir dele. Em função disso, principalmente com o Roberto, sempre foi tudo maravilhoso nesse aspecto. Não me lembro de nenhuma frustração nesse sentido.

PLAYBOY – Eu sou daquelas que desmontam o armário antes de sair. Você também?
ELIANA – Se for a primeira noite com o namorado, certamente. Desmonto com o maior prazer. Às vezes acontece. Como no caso do Grammy [na cerimônia de entrega do prêmio Grammy, em setembro, em Los Angeles, para o qual Eliana foi indicada na categoria melhor CD infantil latino-americano]. Comprei três vestidos porque sabia que se levasse só um e não gostasse na hora teria um piripaque.

PLAYBOY – Mas você não ficou em dúvida entre os três?
ELIANA – Não. Só quis comprar mais um. [Risos.] Não comprei porque o Roberto falou: "Pelo amor de Deus, você está ficando maluca. Tem três vestidos maravilhosos no hotel". É que você anda naquela Rodeo Drive, as lojas com coleções saindo do forno, e pensa: "Nossa, o que eu tenho no hotel está ultrapassado". Claro que não estava. Era um Christian Dior novíssimo, só tinha vindo um para o Brasil.

PLAYBOY – Algum cara já broxou com você?
ELIANA – Ainda não, mas não acho que seja uma coisa terrível de acontecer. Principalmente nesse dia-a-dia estressante que a gente leva. Até nós, mulheres, que não precisamos desse mecanismo, tem dia que a gente quer ficar na nossa, só um carinho, um beijinho. Acho que você não precisa fazer amor todos os dias, sabe? O carinho te completa mais em alguns momentos. Mas, se por acaso isso acontecer, não tenha dúvida que vou encarar da forma mais normal e natural possível.

PLAYBOY – O que você faz se de repente não chega lá numa relação?
ELIANA – Nossa! Eu sempre me relacionei com meus namorados. Nunca fiz sexo, sempre fiz amor com meus namorados. À medida que você vai conhecendo a pessoa e ela vai te conhecendo, isso flui muito normalmente. Tem dia em que você está a fim de colocar a cabeça no colinho do seu namorado e pronto, acabou. Nem sempre é o que ele quer. Mas, por me conhecer, por ter amor, por ter carinho e não ser só uma relação de carne, de pele, então esse problema eu nunca tive. Fazer amor nunca foi um drama na minha vida. Ao contrário, é positivo, me faz bem, me traz alegria, energia.

PLAYBOY – Do que você gosta no seu corpo?
ELIANA – Adoro a minha cintura, meus seios. E sei que, se quiser encantar com o sorriso, eu consigo. Posso estar de calça jeans e camiseta, mas tenho certeza disso. Tem pessoas que têm o poder no olhar. Gosto da minha boca e todos os meus namorados comentaram muito o meu sorriso. Sei que tenho um poder assim, com a boca, independente da roupa. [Risos.]

PLAYBOY – E de qual parte não gosta?
ELIANA – Hoje em dia não tem. Estou muito satisfeita com meu corpo. Antigamente, quando estava mais cheinha, achava minha perna meio gordinha. Hoje eu gosto, está na proporção.

PLAYBOY – Vale tudo entre quatro paredes?
ELIANA – Desde que se respeite o limite do outro. Acho que vale desde que seja combinado, de comum acordo.

PLAYBOY – Quem é o seu símbolo sexual?
ELIANA – O [ator] Richard Gere. Ah, maravilhoso. Aquele cabelo grisalho é uma coisa. Isso se acentuou mais com o filme Pretty Woman, Uma Linda Mulher, que eu adorei.

PLAYBOY – Se não fosse a Eliana, que mulher gostaria de ser?
ELIANA – Ahnnn. Acho que a [atriz americana] Kim Basinger. Hoje está à beira dos 50 anos [tem 46] e é uma mulher sensual, bonita, charmosa.

PLAYBOY – De que tipo de homem você gosta?
ELIANA – Eu não namoraria um homem que não fosse cavalheiro. Adoro que a pessoa se toque que a mulher tem que passar primeiro na porta, sabe? Não precisa abrir porta de carro, porque aí acho too much. Mas esse lado cavalheiro me atrai muito. Gosto de namoro à moda antiga.

PLAYBOY – Qual é a sua noção de felicidade perfeita?
ELIANA – É fazer o que você ama no seu trabalho e ter um namorado delicioso, que te complete, que te dê muitos beijos na boca, que te encha de carinho, que te lembre todo dia como você é importante na vida dele.

PLAYBOY – Outro dia você estava com um lencinho da Daslu, a butique mais cara do Brasil. Você vai muito lá?
ELIANA – Vou lá há algum tempo. Tem uma vendedora que me atende há uns três anos, que é a Denise Gaioli. Ela sabe das minhas preferências, sabe que não gosto de trocar de roupa na frente dos outros. Lá é uma loja aberta onde só entra mulher e as mulheres ficam nuas experimentando roupa, e tira calça, e tira blusa. Não gosto disso, sou muito tímida. Então sempre tem um lugar com uma cortininha que a Denise separa para mim. Como a minha vida é muito corrida, aviso antes e ela separa as coisas legais. Quando chego, está tudo lá no cabidinho, só vou experimentando. Às vezes nem ando pela loja.

PLAYBOY – Você nunca deu um escândalo?
ELIANA – Já tive uma cena de ciúme seriíssima. Faz muito tempo. Fantasiei que meu namorado [Marcos Quintela, empresário de Eliana há doze anos e ex-integrante do conjunto Dominó] estava dando em cima de uma garota numa festa. Isso é muito de mulher, fantasiar, imaginar. Uma coisa é uma moça bonita passar, seu namorado olhar. Isso é normal. Outra coisa é você já fantasiar que o cara está olhando, secando, que quer sair, beijar, abraçar, quer ficar, te trair, enfim. Nesse caso, achei que meu namorado estava secando a menina e que ela estava dando trela. Fiquei louca. Disse: "Olha, eu estou indo embora e, se você não me acompanhar agora, me esquece". Ele, óbvio, me acompanhou. Saí tão irada que peguei uma avenida perigosíssima aqui em São Paulo, meti o pé, correndo muito. Quando vi estava na contramão. Meu namorado se segurou e gritou: "Pelo amor de Deus! Pára!" Aí eu brequei. Foi uma cena impulsiva, estava agindo muito pela emoção.

PLAYBOY – Você tem ímpetos de ciúme?
ELIANA – Sou ciumenta e o ciúme cresce na medida em que o amor aumenta. Hoje controlo. No passado já fui meio doentia.

PLAYBOY – Já fez terapia?
ELIANA – Fiz enquanto estava na faculdade. Nunca cheguei a me formar em Psicologia, mas fiz uns dois ou três anos de terapia, que foi muito legal.

PLAYBOY – Você parece tão diplomática... Já sentiu ódio de alguém?
ELIANA – Acho que foi com essa menina que eu imaginei que estava dando em cima do meu namorado. Queria dar um tapão na cara para ela ficar esperta. Senti um ódio mortal dessa garota. Coitada, acho que ela nem sabe disso. Mas, quando as pessoas querem me provocar, aí faço questão de responder com diplomacia.

PLAYBOY – Nunca se sentiu passada para trás?
ELIANA – Na faculdade. Com 17 anos já tinha passado no vestibular de Psicologia da FMU [Faculdades Metropolitanas Unidas, de São Paulo]. Não tinha presença assídua nas aulas e uma amiga me ajudava muito, a Fabiana Gordim. Ela me emprestava todos os cadernos. O que me deixou muito brava foi quando a Fabiana assinou a lista de chamada para mim e dedaram a menina. Ela levou uma bronca do professor, ficou marcada. Nunca mais pôde assinar a lista de presença e eu bombei em algumas matérias por falta. Fiquei muito brava porque essas pessoas que fizeram isso sabiam que eu era meio autodidata.

PLAYBOY – Escuta, e a sua casa nova? Ouvi dizer que ela é enorme...
ELIANA – A casa está pronta. [Fica em um condomínio fechado nos arredores de São Paulo.] Tem um big quarto com um big banheiro. É em estilo neoclássico. São quatro suítes, sendo que a minha é a suíte master. Tem outra que não é tão grande, mas que também é muito especial, dos meus pais. As duas outras suítes são para hóspedes e futuramente para os meus babys. É uma casa de três andares. Tem piscina, tem sauna. Fiz um spazinho para mim. Gosto de relaxamento oriental, então vai ter um ofurô [espécie de banheira grande e funda feita de madeira]. E também um tatame para fazer jantar japonês, que é minha comida preferida. Tudo meio ao ar livre porque esse gazebo [jardim de inverno] vai ser todo de vidro integrando com pinheiros que já existem no terreno. Também tem churrasqueira, forno de pão. A idéia é que eu possa usufruir mesmo. Quero me sentir no meu paraíso.

PLAYBOY – É verdade que você foi uma adolescente gordinha?
ELIANA – Fui. Meu trabalho nunca foi focado em roupas sensuais para mostrar o corpo. O foco era mais educativo. Então, não me preocupava muito. Mas aí, como mulher, me vendo em revistas, isso começou a me incomodar. Acho que foi quando quis ser capa dessas revistas de fitness. Um dia [há cerca de cinco anos] cheguei para a [assessora de imprensa] Maysa [Alves, que está com Eliana há quase oito anos] e falei: "Poxa, já fui capa de tantas revistas! Você pode me dizer por que nunca fui capa de Boa Forma, Corpo a Corpo? Liga lá para eles, fala que a gente quer fazer, pergunta se eles têm interesse". A Maysa nunca me dava resposta. Um dia ela falou: "Vou ter que abrir o jogo com você. Passei vergonha outro dia numa redação. A editora falou: ‘Poxa, Maysa, você não percebe que a sua cliente é muito gordinha?’"

PLAYBOY – E aí o mundo caiu?
ELIANA – Caiu nada. Falei: "Ah, tá bom, essa fresca não sabe o que está perdendo". Demos risada. Mas fiquei com aquilo engasgado. Sempre me exercitei, mas comecei a pegar forte na academia. Contratei um personal [trainer], fiz musculação. Até que a Maysa falou: "Poxa, tá com o corpo legal". Fiz as capas.

PLAYBOY – Falava-se de sexo em casa?
ELIANA – Não era aberto nem nada. Mas minha mãe sempre se pôs à disposição para qualquer problema que houvesse. Tanto que sempre soube quando as coisas aconteceram.

PLAYBOY – E como foi sua primeira vez?
ELIANA – Isso aconteceu quando eu tinha de 17 para 18 anos. Foi muito legal porque foi com uma pessoa que eu amava [Quintela]. Acho que isso é fundamental. Não quero que a minha filha se case virgem, mas gostaria muito que a primeira vez dela fosse pensada, com amor. Não foi tão cedo e também não tão tarde. Foi numa época bacana e com uma pessoa especial, que era meu namorado já de anos. Estava me preparando para aquilo. Foi especial.

PLAYBOY – Mas até hoje você mora com seus pais. Como é isso?
ELIANA – Supernormal. Eles respeitam muito a minha individualidade.

PLAYBOY – O Roberto Justus dorme na sua casa?
ELIANA – Não. Em um ano e pouco [de namoro] acho que dormiu uma ou duas vezes. Eu dormi algumas vezes na casa dele. A gente gosta mais de ficar junto quando viaja. Não gosto muito de misturar as coisas. Quero estar mesmo na casa dele no dia em que a gente se casar, dormindo todos os dias juntos. Não que perca o brilho, mas não me sinto muito bem.

PLAYBOY – Em quem você deu o primeiro beijo?
ELIANA – Foi no Cacau [amiguinho da escola]. Sabe a brincadeira: beijo, abraço, aperto de mão? Foi assim. Achava ele superbonitinho, então pedi a uma amiga que me desse um apertãozinho no rosto quando fosse a vez do Cacau. Aí escolhi o beijo mais bacana. [De língua.] Tinha uns 13 anos.

PLAYBOY – E como você conheceu o Marcos Quintela?
ELIANA – Ele era do Dominó e eu, da Patotinha. A gente se conheceu nos bastidores de um programa chamado TVMix, apresentado pela Astrid Fontenelle na TV Gazeta. Foi o primeiro programa teen, o pioneiro nesse estilo mais modernoso. A gente foi cantar no Aeroanta [uma danceteria em São Paulo onde o programa foi gravado], que nem existe mais. No camarim, ele pediu meu telefone. Relutei, relutei e não dei. A assessora me procurou depois para pegar o número. Aí fiquei mais à vontade, era uma mulher. No mesmo dia ele ligou e ficamos conversando 2 horas. Foi paixão, acho que à primeira vista. Ele saiu do Dominó e eu continuei minha carreira como apresentadora. Foi quando surgiu a idéia de fazer um escritório que ele administrasse. Começou a vender meu show para empresários do país inteiro. E deu certo. O namoro terminou e o trabalho permaneceu [até hoje].

PLAYBOY – Quantos namorados teve?
ELIANA – O Quintela. Logo depois tive um dentista, o Alexandre Bérgamo, que namorei um ano. Depois o [apresentador de TV] Luciano [Huck]. E agora o Roberto.

PLAYBOY – Você demora muito tempo entre o primeiro beijo e a transa?
ELIANA – Depende, cada relação é uma relação. Isso não tem regra. Comigo e com o Roberto demorou. É porque a gente queria ir mais devagar.

PLAYBOY – Demorou quanto, um mês?
ELIANA – [Irritada.] Ai, mas que absurdo você me perguntar isso. [Risos.] Eu não respondo.

PLAYBOY – E a história de que vocês vão dividir o mesmo secador de cabelos?
ELIANA – Ele não usa mais secador. [Risos.] Quando o conheci, perguntei: "Por que falam tanto isso?" Ele disse: "Acho que foi maldade de alguém". E, realmente, ele não é assim, não. O Luciano era mais vaidoso que ele.

PLAYBOY – Quando fez aniversário de namoro, você disse que um ano ao lado do Roberto era uma resposta aos invejosos. Por quê?
ELIANA – Porque quando o namoro começou foi um inferno. Piadinhas de todos os lados. Que ele queria aparecer, estar com uma pessoa famosa, que queria ser famoso. Entendo muito bem o lado do Roberto. Ser famoso é diferente de ser artista. Outro dia, veio uma fã entregar uma revista Gallery antiga, com o Roberto na capa como jogador de tênis. Quer dizer, no meio social, no meio publicitário, ele já era um cara de expressão. Depois que se casou com a Adriane [Galisteu], tornou-se uma pessoa popular. Mas ser famoso? Ele já era famoso. E ser artista ele não vai querer nunca porque o trabalho dele é ser publicitário. Por isso dei essa cutucadinha. Nada muito perverso, mas também não podia ficar sem essa resposta.

PLAYBOY – Em nenhum momento no começo do namoro você pensou que os boatos pudessem ser verdade?
ELIANA – Não. Até é bom a gente deixar bem claro porque esta certamente vai ser a última entrevista que vou dar comparando a minha relação com a relação que o Roberto teve no passado. Nunca tive dúvida porque não vou prejulgar ninguém pelo que li na revista, pelo que a ex-mulher dele falou. Tenho que fazer o meu próprio julgamento. As pessoas julgam muito o Roberto pelo que foi dito na relação passada. E todo mundo sabe que as pessoas mudam de relação para relação. O Roberto é um dos namorados mais completos que já tive na vida.

PLAYBOY – Vamos voltar ao Luciano Huck. Ficou uma história mal contada no final do namoro de vocês...
ELIANA – Você acha? Acho que passou, é o tipo de coisa importante para acontecer na vida da gente. Todo sofrimento traz maturidade. Não que eu goste de sofrer. Mas uma pessoa que está disposta a amar e se entregar tem de saber que corre o risco de se machucar. Isso é poético de dizer, mas é real. Nem gostaria de citar o porquê. Já passou. Ele é meu amigo.

PLAYBOY – Ele te traiu?
ELIANA – [Pausa.] Ãhannnn. Não gostaria de falar. No momento não estou informando esse assunto. [Risos.] E nem informei na época.

PLAYBOY – Por isso perguntei. Achei que fosse uma coisa resolvida.
ELIANA – Não é questão de ser resolvida. É questão que não dá para apagar e jamais quereria apagar qualquer coisa das minhas relações passadas. Acho que elas fazem parte da minha história. O que não quero é reviver qualquer coisa que tenha me chateado. Nesse momento não vale a pena. Tenho vivido momentos lindos com meu namorado. Isso, sim, vale a pena falar.

PLAYBOY – É verdade que você pegou um recado da Ivete Sangalo para o Luciano no celular dele?
ELIANA – Não tô sabendo disso.

PLAYBOY – Você nunca pegou?
ELIANA – Não tô sabendo disso. Não tô sabendo. Pode seguir. Passa. [Risos.] Passa ou repassa? Eu passo.

PLAYBOY – E quando você vai passar a aliança Cartier para a mão esquerda?
ELIANA – Não sei. Estou muito feliz. Pensamos em nos casar. Já falamos algumas vezes sobre o assunto. Mas a gente não quer antecipar datas.

PLAYBOY – E vai ter festona?
ELIANA – Não sei se vou querer festona, mas quero que estejam presentes quem eu mais amo. Não tenho dúvida de que um dos passos mais legais na vida de uma mulher é o casamento.

PLAYBOY – O que você gosta de fazer nas horas vagas?
ELIANA – Adoro ir para o sítio do Roberto [em Porto Feliz, no interior de São Paulo]. Fico esticada, tomando sol. Gosto de andar a cavalo, brincar com o cachorro. Minha cachorra [a cocker spaniel Penélope] está namorando o cachorro dele. Ela mora lá no sítio com ele. É muito mais moderna do que eu porque já foi morar com o namorado dela. [Risos.]

PLAYBOY – Qual é o apelido secreto que você tem com o Roberto?
ELIANA – Secreto? Não. Goida e Goidio [faz biquinho e cai na risada]. Começou de carinho mesmo porque nem ele é gordo nem eu sou gorda. Carinhozinho. Mas a gente se chama de muitas coisas. Apaixonada a gente fica besta, né? Mas é normal, é legal, é saudável, todo mundo tem [apelido]. Tem gente que tem vergonha.

PLAYBOY – Mudando de assunto, você sabe onde está todo o seu dinheiro?
ELIANA – Sabe aquela história de que se o dono não estiver presente [o negócio] anda, mas não anda do jeito que você gostaria? Ninguém melhor para cuidar dos negócios do que você. Tenho parceiros excelentes, mas não sai um cheque daqui sem eu assinar.

PLAYBOY – Com essa violência toda na cidade, menina, você anda com segurança?
ELIANA – Com segurança e carro blindado, infelizmente. Tenho saudade da época em que podia abrir o vidro e sentir o vento bater no rosto, no cabelo.

PLAYBOY – Qual é o brinquedo que você mais quis quando era crianca?
ELIANA – Tinha uma boneca da Estrela, um bebezinho. Foi a primeira vez no Brasil que se fez uma boneca tão parecida com bebê. Esperei muito isso no Dia das Crianças. Minhas amigas todas ganharam, eu não. Minhas amigas eram as filhas dos moradores do prédio onde meu pai trabalhava. Então elas tinham coisas que eu não tinha. Mas isso foi bom. Se não tivesse garotas do meu lado que conhecessem a Disney, eu jamais imaginaria ir para lá. A boneca veio mais tarde, no Natal.

PLAYBOY – E depois você virou uma boneca da Estrela?
ELIANA – Talvez o Carlos Tilkian nem saiba disso, ele é o dono da Estrela, meu amigão. Quase tive um ataque cardíaco. [Fala mais alto] Falei: "Como é que é? A Estrela quer ter uma boneca Eliana? Peraí. Deixa eu sentar. [Grita.] AhhhhhAhhhhhh!!!! A Estrela quer fazer uma boneca comigo? O que é isso? Que sonho! Que tudo!"

PLAYBOY – Quando o presente não veio você chorou?
ELIANA – Não. Sempre foi muito explicado. O apartamento da gente era pequenininho e os das minhas amigas eram grandes, apesar de nós morarmos no mesmo prédio. O meu quarto era dividido com a minha irmã, com o meu pai e com a minha mãe. Era um quarto, um banheiro, uma sala e uma cozinha. E em nenhum momento me frustrei por isso ou quis estar no lugar das minhas amigas. Graças a Deus, acho que isso é uma coisa muito bacana que meus pais conseguiram me mostrar: não é por isso que você é menos, não se sinta diminuída pelo material. Seja educada, saiba como se comportar, mas não se sinta diminuída.

PLAYBOY – Você nunca foi discriminada por ser a filha do zelador?
ELIANA – Nunca. Cheguei ao prédio muito pequenininha, com 2 ou 3 anos, e os moradores foram me acolhendo. Fiz amizade com todo mundo. Até ia para restaurantes legais com a dra. Vera, que é uma querida de paixão, uma médica que tinha dois meninos e queria ter uma menina. Ela sempre me levava pra cima e pra baixo e dizia: "Ah, quero ter uma menina como você". Mais tarde, quando eu já estava mais crescida, ela teve uma menina, a Carlinha, e realizou o sonho dela.

PLAYBOY – Não se incomoda pelo fato de seu pai ser zelador até hoje?
ELIANA – Não me incomoda em absolutamente nada. Mesmo porque ele ama o que faz, fez amigos ali, na rua todo mundo o conhece. Já propus a ele fazer alguma outra coisa. Mas ele diz: "É isso o que sei fazer, gosto e só vou sair quando me aposentar". Ele se aposentou. Falei de novo: "Pai, o senhor se aposentou, vai curtir a vida". E ele: "Vou ficar por aqui por enquanto". Recentemente a gente teve uma conversa e ele disse que está pensando em descansar um pouco mais. Acho que até o final do ano vai parar.

PLAYBOY – Como é que você lida com a fama? Sente-se invadida?
ELIANA – De jeito nenhum. Se não quero ser incomodada, sei que tenho de ficar na minha casa, vou a um sítio ou para o exterior. Se me incomodasse não poderia estar nessa profissão.

PLAYBOY – Não acredito que a fama nunca tenha produzido nenhum incômodo na sua vida...
ELIANA – O que me incomoda são algumas fofocas. Uma vez resolvi usar um método anticonceptivo, que é o DIU, indicado pela minha ginecologista. Sofro muito com a TPM e a pílula ia me inchar muito. Tentei colocar no consultório, mas não consegui. Aí fui com minha mãe até o Hospital Santa Catarina e depois o Roberto foi me visitar. Tomei anestesia. Na verdade eles te dão um cheirinho e você dorme, fica mole umas 2, 3 horas. Aí já insinuaram que teria feito um aborto. Isso foi de uma maldade tão grande... Eu quero, sim, ter meu filho. Em toda minha carreira nunca me magoaram tanto como com uma bobagem dessa.

PLAYBOY – Você gosta de ser famosa?
ELIANA – Gosto de fazer o que faço. Quando entro num ambiente e as pessoas me olham já não percebo mais. Muito pelo fato de não ficar observando, mas também por estar acostumada com essa vida. Não sei viver de outro jeito.

PLAYBOY – Você lê?
ELIANA – Leio. Do [autor de livros de auto-ajuda Roberto] Shinyashiki eu gosto bastante. O Alquimista, do Paulo Coelho, eu gosto. O Alquimista faz tempo que eu li.

PLAYBOY – Você nunca levantou a voz para ninguém?
ELIANA – Sou brava quando tenho que ser redundante. Peço: "Por favor, me faça tal coisa". Muito educada. Aí a pessoa se distrai, esquece. Isso é uma coisa que não admito muito porque dificilmente deixo de fazer alguma coisa no dia por esquecimento. Posso deixar de fazer por falta de tempo, mas não porque esqueci. Quando vejo que as pessoas se distraem sem nenhum motivo, acabo falando um pouco mais agressiva.

PLAYBOY – Nunca fumou?
ELIANA – Não, nunca. Eu odeio cigarro.

PLAYBOY – E maconha?
ELIANA – Nossa! Já vi muitas vezes. As únicas vezes em que vi maconha foram em praia. Praia assim, no sul, mesmo no Havaí. Nunca experimentei. Não tenho vontade de experimentar. Sou contra.

PLAYBOY – Cocaína, então, nem pensar!
ELIANA – Deus me livre! Deus me livre! Não, não, aí eu acho deprê demais, muito deprê.

PLAYBOY – Você reza?
ELIANA – Rezo todos os dias. Ou o credo ou o pai-nosso. Às vezes abro a Bíblia que tenho do lado da minha cama e leio o meu Salmo, que é o Salmo 23 [O Senhor é o meu pastor; Nada me faltará]. Por dormir no mesmo quarto durante muitos anos com os meus pais, sempre presenciei minha mãe rezando antes de dormir. E ela não reza deitada. Ela se ajoelha na cama, põe a mãozinha em forma de oração, reza e daí deita. Eu rezo deitada.

PLAYBOY – E superstição, você tem?
ELIANA – Evito passar embaixo de escada. Não que ache que vá acontecer. Não durmo com a porta do guarda-roupa aberta. Hoje, no caso, com o closet, não durmo com a porta aberta.

PLAYBOY – Como começou a carreira?
ELIANA – Sempre dancei. Fiz três anos de balé clássico, uns quatro anos de jazz. Desde os 3 anos de idade minha mãe me pôs no clássico. Tenho fotinhos do espetáculo. Eu de borboletinha, superbonitinha. Sempre fiz esporte, fiz muita natação, quando era criança adorava.

PLAYBOY – Mas qual era a condição econômica de vocês, afinal?
ELIANA – Fiz tudo em lugares gratuitos. Minha mãe batalhava muito pela gente. Balé eu fazia no Sesc, que tinha balé de graça, com professores ótimos.

PLAYBOY – Sempre ajudou em casa?
ELIANA – No começo, não. Meu pai não admitia. Imagina! "O seu dinheiro você tem que guardar." Até hoje, dentro da casa onde a gente mora não sou eu que pago todos os custos. Ele faz questão de pagar o supermercado.

PLAYBOY – Quando você sonhou que queria ser artista?
ELIANA – Gostava de imitar os artistas e um dia falei para minha mãe que queria ser uma. Fomos até uma agência que a gente viu num folheto de rua. Chegando lá, o cara falou: "Precisa pagar uma taxa e você tem direito de fazer fotos em tal lugar". Minha mãe, com muito esforço, meu pai nem sonhava, deu dinheiro para esse fulano. Recebemos as fotos, voltamos alguns dias depois à agência e, quando chegamos, tinha fila na porta com um monte de gente revoltada. A agência tinha fechado! Era um negócio picareta.

PLAYBOY – Que frustração!
ELIANA – Foi minha frustraçãozinha de criança. Dei uma murchadinha, assim. Falei ahahh [faz beicinho]. Achava que ali era a minha grande chance. Não foi. Mas depois fiz parte de uma equipe legal, da Joyce Manequins e Maneiras. Minha mãe juntou um dinheirinho, porque era um curso caro. A gente aprendia a andar na passarela, etiqueta, moda, como se maquiar. Então descobri que tinha um teste para fazer parte do conjunto As Patotinhas.

PLAYBOY – E como foi quando você passou? Não sentiu medo?
ELIANA – Fiquei muito feliz. Mas não sabia o que me esperava. O show terminava às 10 da noite eu ia para o hotel, tomava um banho e estudava até de madrugada porque de manhã ia fazer prova. Além disso, era menina, tinha 13 anos. As Patotinhas já eram adolescentes, quase mulheres. No primeiro show, disseram: "Vocês têm 1 hora para se arrumar". Imagina, depois do curso nunca mais me maquiei. E no primeiro show tive que me maquiar sozinha. Tinha estrutura montada: empresário, acompanhante para as garotas, motorista. Fiquei longe da minha mãe, do meu pai, do meu berço, do meu aconchego. Quando ia viajar, minha mala voltava muito mais leve. Esquecia metade das roupas porque não tinha responsabilidade de ir juntando minhas coisas para guardar.

PLAYBOY – Você saiu das Patotinhas direto para o Banana Split?
ELIANA – Direto. Tinha quase 17 anos. Uma das garotas ficou grávida e queriam uma loirinha para subsitituir. Eu não sabia dançar lambada. Em uma semana aprendi o show inteiro de quinze músicas, com lambada. E um detalhe: não tinha verba para confeccionar uma roupa exclusiva. A garota que saiu tinha 1,70 metro. Eu tenho 1,62. A saia míni dela batia no meu joelho. O sapato dela era 37; o meu, 35. Ela tinha um peito avantajado.

PLAYBOY – O que fizeram?
ELIANA – Era sutiã de bojo para aumentar peito, algodão na ponta do sapato. E a saia? Enrolava a saia. Uma loucura. Todas as garotas eram muito altas. Cumpri a agenda que elas tinham e aí fomos fazer televisão. Um dos primeiros programas foi o do Silvio Santos. Me destaquei por ser baixinha.

PLAYBOY – Com que roupa foi?
ELIANA – Fui lá eu com meu sapato 37, o sutiã de bojo, o cabelo todo cacheadão. Entrei, dancei bonitinho, tudo o mais. Sempre respondia quando o Silvio perguntava. O Silvio começou a colocar o microfone para mim. O auditório sempre aplaudia. O Silvio nem olha o artista de frente, ao vivo, olha pelo monitor. Naquele dia falou no ar: "Vamos fazer um teste. Vocês gostam dela, auditório?" "Gostamos!" "Ela é simpática?" "É!" Depois do programa falou: "Acho que você tem muito jeito para apresentadora. Vamos fazer um teste". Na época tinha Bozo, Mara Maravilha, Sérgio Mallandro, Vovó Mafalda, Mariane. Na mesma semana já estava fazendo um piloto. Depois o Silvio falou: "O.k., você pode ser apresentadora infantil aqui do SBT". Quase caí para trás. Fui apresentar o Festolândia.

PLAYBOY – E por que o programa durou só três meses?
ELIANA – Como tinha muita gente na grade [de programação], não dava para manter mais um programa numa fase que não era boa para a emissora. Em vez de tirar os apresentadores que estavam lá há mais tempo, é óbvio que a corda arrebentou do lado mais fraco, que era o meu. Desabei a chorar.

PLAYBOY – Na frente do Silvio Santos?
ELIANA – Não, quem me informou foi o [superintendente artístico do SBT] Luciano Callegari. Falei: "Mas peraí, há três meses eu estava feliz da vida. Estava num conjunto, tinha uma profissão. O Silvio me tirou de lá, falou que eu seria apresentadora e agora, depois de três meses, não posso mais?" Fingi que ia embora da emissora e esperei o segurança sair da porta do Silvio. Estava em prantos quando passou o Carlos Alberto de Nóbrega. O Silvio passou e ele, sem saber do ocorrido, falou: "Silvio, olha aqui, a Eliana está chorando". O Silvio: "Não tenho tempo, estou indo embora". Aí só faltei grudar no suspensório dele e dizer que precisava daquele emprego.

PLAYBOY – Isso no meio do corredor?
ELIANA – No meio do corredor. Foi uma cena, com certeza histórica no prédio deles, o prédio da diretoria. Eu dizia: "Preciso que o senhor entenda que eu tinha um emprego. Só quero saber uma coisa. Eu fiz alguma coisa errada? Fiz alguma coisa de que o senhor não gostou?" Ele falou: "Não". "O problema é comigo?" "Não, o problema é de cortes financeiros na casa. E você representa muita despesa para mim. Infelizmente isso para você é o lado da arte, artístico. Para mim é trabalho, uma empresa precisa ter lucro." Foi a primeira vez em que me deparei com a matemática da vida. Quer dizer, eu tinha de gerar receita para continuar sobrevivendo na emissora. Ele falou: "A Vovó Mafalda está aí apresentando desenho". Falei: "Taí, posso apresentar desenho também". Ele mandou falar com o Callegari. Tinha certeza de uma coisa: se saísse daquela casa, não voltaria mais.

PLAYBOY – Foi apresentando desenho que veio o sucesso da música Os Dedinhos, que te revelou como apresentadora infantil?
ELIANA – Foi. Tínhamos ordem expressa para manter o plano americano. É chamadinha, da cintura para cima. Aí comecei a cantar a música. Era uma regravação. Recebia muitas cartas. O CD de Os Dedinhos foi disco de platina.

PLAYBOY – E como você saiu do SBT?
ELIANA – Nunca tive mais do que 20 minutos no SBT. Cresci muito mais fora da emissora do que dentro. Foi aí o grande impasse. Quando entrava no ar, meu ibope subia. A gente mostrava isso ao Silvio, às pessoas da direção, mas não havia jeito de mudar.

PLAYBOY – Por quê?
ELIANA – O Silvio sempre acreditou que o que dá mais ibope é desenho. Então, não tem o que negociar. É crença profissional. Aí recebi uma proposta fantástica da Record, outra muito bacana da Rede Globo e vi: "Poxa vida, tem gente me querendo".

PLAYBOY – E quando você chegou à Record a audiência despencou...
ELIANA – Eu tinha todo o aparato, o cenário foi carésimo, mas não tinha o desenho. Nós compramos alguns, mas eram desconhecidos. Só que televisão é hábito. A criançada estava acostumada a me ver apresentando desenhos. Tinha 3 horas de programa com muita arte. Ficava muito professoral. Aí falamos: "Vamos fazer pastelão". Botamos o Chiquinho [um personagem do programa] levando torta na cara. Mas aí falei: "Isso não tá de acordo com o que acredito". Pedimos o apoio de um diretor que entendesse o público da Record e comecei a fazer ao vivo. Incluímos esportes radicais, trouxemos ecologia e aí deu no que deu.

PLAYBOY – Você apresenta Pokémon?
ELIANA – Sim. São 20 minutos. É o que tenho de desenho. Concorro na verdade com Warner Bros, Disney, Hanah Barbera. Concorro com gente forte! Porque não produzo desenho. Produzo programa infantil e que tem arte. [Irritada.] Então dizer que o programa da Eliana dá ibope porque tem Pokémon? Que é isso?

PLAYBOY – Você fica irritada com isso.
ELIANA – Não. Acho injusto.

PLAYBOY – Você não acha que a era das apresentadoras loiras está no fim?
ELIANA – De jeito nenhum. Acho que isso é um rótulo injusto que se formou. A Xuxa é loira, a Angélica é loira, a Eliana é loira? Tudo bem. Se mudar a cor do cabelo, vou deixar de ser amada pelas crianças? Claro que não. O Castelo Rá-Tim-Bum fez o maior sucesso. Tinha alguma loirinha bonitinha?

PLAYBOY – Não tinha apresentadora. O programa da Angélica mudou...
ELIANA – Mas o meu trabalho tem um histórico diferente. Tanto é que quando comecei não era bonitinha, era loira. Bonitinha não, porque era gordinha. Se amanhã decidir que não quero mais trabalhar para crianças, sei que ficou uma história. Não é a Eliana loirinha que fica na cabeça das pessoas. É a Eliana dos dedinhos, que tem músicas educativas, que tem a experiência do dia. Sei que plantei uma semente.

PLAYBOY – E o Grammy?
ELIANA – Foi uma grande surpresa na minha carreira musical. Todos os CDs que fiz sempre foram muito bons. Eu canto. Comecei como cantora e depois virei apresentadora. Não tem computador. Tem muita voz, dedicação. E aí fico feliz porque depois do Grammy, no meu país, que é a coisa que mais me interessa, as pessoas começaram a olhar com bons olhos e com mais cuidado meu trabalho musical.

PLAYBOY – E a cerimônia?
ELIANA – Fantástica. Minha maior emoção foi pisar naquele tapete vermelho, olhar para o lado e ver a [atriz-cantora] Jennifer Lopez, o [cantor porto-riquenho] Ricky Martin. E eu uau!, olha eu aqui. [Risos.]

PLAYBOY – Na TV tem muita intriga?
ELIANA – Tem ciúme, joguinho de ego. Ah, o seu camarim é maior que o meu, as suas câmeras são mais novas, o seu microfone é mais bacana.

PLAYBOY – E, por falar em intriga, o que você achou da contratação da Adriane Galisteu pela Record?
ELIANA – Antes de a imprensa noticiar, já sabia. A diretoria me comunicou. Eles foram supergracinhas e me perguntaram meio que assim: "E aí, tem algum problema?" Falei: "Gente, pelo amor de Deus, fico felicíssima com essa preocupação, mas a emissora precisa crescer". Havia uma lacuna no juvenil. Eu não tenho problema pessoal nenhum com a Adriane, apesar de estar namorando uma pessoa que se casou com ela. Acontece que nunca fomos amigas. Ela é uma pessoa conhecida. Há muitos anos eu era da Patotinha. Ela, da Meia Soquete. Mas sempre fui da paz. Sou do bem mesmo e não preciso jogar farpas em ninguém. Disse para o diretor artístico, o Marcus Vinícius: "Diga que ela é muito bem-vinda. Inclusive, gostaria que o primeiro programa em que ela apareça na casa fosse o meu". Não tenho intuito nenhum de deixá-la desconfortável em função de uma coisa que a imprensa teoricamente tenha falado.

PLAYBOY – A imprensa serve bem...
ELIANA – Não. Nunca liguei para ela para tirar satisfação: [Faz careta e fala grosso] "Ô, minha filha, você falou que eu sou bonequinha, princesinha, e daí, qual é o problema?" Também, se ela acha isso, e daí? Não vou deixar de ser a bonequinha, princesinha. Não preciso ser sensual, a fêmea fatal 24 horas por dia. Mesmo porque não vivo da minha imagem. Vivo do meu talento. O meu foco, da minha carreira, não é falar da minha cinturinha, do meu corpo. Me dá bode falar muito nisso. Agora fiz uma [edição da revista] Boa Forma especial, vou dar um tempo. Já falei para a Maysa: vamos dar um tempo nessa coisa de divulgar corpo, abdômen saradinho, bumbunzinho, peitinho, corpinho, porque sabe, eu não preciso, graças a Deus.

Fim

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